Faço da poesia
o meu canal 
lacrimal
ao permitir que
a lágrima
escorra quente
por minha veia
poética

Esther Alcântara
(Imagem: Conrad Roset)




AMOR EM CONSERVA

Estava ali
bem na minha frente
pichado no muro
das minhas pálpebras
escuras e escusas
você apostando
em nosso vício
fora de validade
eu franzindo os vincos
das têmporas
passados a ferro quente
pronta pra dizer
que não tem mais tempero
na salada de nós
que o tempo dissolveu
as formas delicadas
do teso amor
já estilhaços após
tantos nós
nos cabelos
e não restou delícia
na embalagem do fim
frasco de guardar
com fome
pra depois gozar
fresco de viver
amor em conserva

Esther Alcântara

Poema inspirado na pintura homônima de Monica Ancapi Art.

Há expressões que abraçam, palavras afetivas que envolvem a pessoa triste, às vezes distante, como a dar um colo. Mas, aqui dos meus achismos, digo que a expressão "meus pêsames", especialmente se isolada, é por demais gélida e hoje em dia é usada apenas para cumprir protocolo - num rito social, é dita porque diante da morte a gente nunca sabe o que dizer, e essa expressão já foi cunhada para isso, aprovada, batizada e crismada. Ou seja, preenche o sentido, mas não transmite sentimento. Das vezes que a ouvi, senti que quem disse não era íntimo, que se esforçava em ser solidário num gesto até sincero, mas não estabelecia empatia com minha dor. A expressão colocava o falante em posição de distância, de pessoa estranha, alheia à minha vida. Porém, quem ouve tal expressão normalmente está precisando é de um abraço, que nunca é mudo. Diante da morte, se não houver intimidade ou sensibilidade suficiente para acolher, abraçar com braços ou palavras, 
acho que é sempre melhor emudecer.

- Esther Alcântara

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O POEMA E A PALAVRA

Poemas são seres concebidos de uma relação amorosa com as palavras. Às vezes mais pungentes, amor traduzido em sexo animal; outras vezes mais doce, amor terno que embala cada letra em melodia própria até encontrar o ritmo que sustenta os versos, até encontrar a harmonia entre ideia, imagem e palavra, o diálogo da poesia. Poemas são crias de partos nem sempre fáceis, mas sempre gerados de um caso de amor com a palavra. Pode ser qualquer tipo de amor, sagrado feito amor de mãe ou profano feito orgia de deuses pagãos. Até mesmo incestuoso esse amor pode ser, quando depois se lambe a cria e se goza pelo verbo. Mas sem olhar para a palavra com afeto desmedido se pode no máximo fazer do texto um edifício vertical, no qual o poema simplesmente não acontece.

- Esther Alcântara

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Porque em relevo se revelava o verso

Eu logo vi a palavra
ali suspensa
virgem descomposta
sobreposta à pele
tumor de alma exposta
lava in-continente
transparente na verve
carne viva a implorar o hálito
de dragões

Eu logo vi a poesia
indisposta a calar no verso
do corpo

28/03/2017
(Fonte da imagem: Pinterest/autoria desconhecida)
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SEM BÚSSOLA

Quando eu buscava 
meu norte
ele era vento sul


um cruzamento
leste-oeste
não me desnorteou


ancorei na linha
do Equador
sem embaraço


dei pra contemplar
a migração 
de cada estrela



(Imagem: Pinterest / autoria desconhecida)
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só olhar

esse olhar
lacônico
faz lacrimar
meu eu
lírico


eu rio
eu beira-mar
eu quase 
mergulho
onírico


Esther Alcântara

(Imagem: René Magritte)
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JARDIM DE INVERNO

Sempre-vivas
suculentas
dançarinas de
mil matizes
fazem orgia 
em nu mistério
bordado no vento


Em outro canteiro
esterlízias 
pousam nas 
entrelinhas
silenciosas
de um dandelion
com fogo de voar


Esther Alcântara

(Imagem: arte de Jimmy Lawlor)
A imagem pode conter: texto
ENCAIXE

Nenhum pingente
de coração
precisa ser 
pesado
mesmo que
pungente

É só chacoalhar
a corrente
até encaixar
os elos
e relaxar
os quadris

Esther Alcântara

(Imagem: Lolita flamenco dancer, de Rico Tomaso)
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Sujeito a guincho

Neste estacionamento
não cabe mais
sujeito inexistente
sujeito oculto
sujeito composto...


Reservado a sujeito simples
que possa dar vida 
a meus predicados


Esther Alcântara

ANOS-LUZ

Da outra vez que
te olhei nos olhos
os meus sem miopia
nem gravidade
eram livres do peso 
de trinta e tantos 
pesares

eu era um misto
de flor e lua
e te confundia

Da outra vez que
te olhei nos olhos
os seus voavam leves
com as abelhas
na roda do meu vestido
convidando pra rodar
livre de pensar

era tanto verde azul
que o chão e o céu
eu confundia

Agora que percorremos
talvez trinta anos-luz
teus olhos tateiam
bem os meus
ainda a rodar
feito bala perdida
de alcaçuz

Esther Alcântara

(Imagem: arte de Jimmy Lawlor)

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Silêncio

Um grilo falante
que pululou 
bem ali

nas palavras que 
não ouvi
e disse tudo


Esther Alcântara
TEMPO DE VELEJAR

Houve um tempo
em que eu hasteava 
bandeiras de causas fortes


Eu era rica em valentia

Mas eu nem sabia
que não orquestrava 
a subida aos mastros


Eu era pobre em sabedoria

Hoje contemplo os mastros
livre de ser rica ou pobre
e só penso em içar as velas


Seja o vento meu maestro

Esther Alcântara

(Imagem: VApinx, via Pinterest)
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Psiu, poeta

Eu não queria
que você me 
notasse


Seria pouco 
se você não me 
anotasse.


Esther Alcântara
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Por que escrevo?

Cada vez mais
sinto a boca seca
e o espírito encharcado
de palavras


Preciso e intento 
dia sim, dia sim
deixá-las escorrer
pelos dedos

antes que me afoguem

Esther Alcântara

(Foto: Sara Gray - Deviantant)
A imagem pode conter: uma ou mais pessoas
ENREDOS

Contar causo
feito conto
é dissolver
na paleta do
acaso
uma pitada de
faz de conta


é embebedar 
de poesia
o horizonte
e se enredar
por ele
com ele
nele


é ser personagem
que nunca está
à margem


Esther Alcântara

(Imagem: Collages girl and bird - Creativitea.org)
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CÂNTAROS

Hoje eu fui
muitas mulheres
cantando

Hoje eu senti
muitas mulheres
sentindo

Hoje eu vivi
a vida
a cântaros

Esther Alcântara

(Às amigas do Coro Cântaro, por um domingo de música radiante e energia muito especial fluindo. Gratidão.)
MO(VI)MENTO FIXO

Para, tempo!
Para de tatear
nosso escuro
silêncio

porque aqui
o movimento
é claro

e se anuncia
fixo

Esther Alcântara

(foto, dança de Solange Argon)

A imagem pode conter: 1 pessoa, dançando

AMOR PLATÔNICO LÍQUIDO

Da Ana Rosa à Vila Prudente, ele foi sentado bem à minha frente. Já estava lá, quando me sentei e... Parei! Fiquei sem ar por uns segundos, observando a barba, o nariz e os ângulos do rosto tão másculos... Gente, um homem lindo! Imaginei uma paqueradinha despretensiosa pra fechar bem à noite, daquelas de olhares furtivos e quentes, de gosto não gosto, dessas coisas que acho que estão ficando obsoletas (concluí depois). Ele também levava uns livros, pra completar a perfeição. Olhei primeiro de leve, e nada. Olhei melhor depois todos esses detalhes que descrevi acima com meu binóculo imaginário, macro, olho de peixe... Nada. Pensei num jeito de lhe chamar a atenção. Já sei, o metrô tá vazio mesmo, então vou cantar, como quem está distraída. Estava voltando do ensaio do coral, então peguei uma das partituras para fazer tipo de musicista superprofissional e interessante, não de maluca sem noção de espaço. Cantarolei "Amazing grace" e ele ainda não olhou. Pensei em Deus. Será que é blasfêmia cantar a graça divina olhando a graça masculina? Podia ser castigo. Mas logo imaginei que Deus tinha mais o que fazer e nem estava vendo, ou que sabia muito bem contextualizar, já que é onipresente e onisciente, e já tinha me perdoado. Quatro pentagramas desafinados depois, nada! Ele não mexeu um cílio para me olhar ou me ouvir, atento ao celular. Aí me dei conta de que desperdicei meu pretenso talento, porque ele usava fone de ouvido. Entrou outro moço e foi com a gente no metrô por duas estações. Sentou de lado para o lindo, mas virava de frente para olhá-lo também. Percebi ter arrumado concorrente, mas ele também não fora bem-sucedido. Assim que me vi sozinha com o bonito de novo, apelei. Peguei um batom vermelho novinho na bolsa, meu espelhinho chique com ar imperial, e longamente pintei os lábios. Está aí uma coisa que sempre me deixou constrangida - o olhar dos homens quando a gente passa batom na frente deles no busão ou no metrô; se preciso, passo batom discretamente, fico quase invisível. Mas desta vez eu fiz bocão com meus lábios finos, passei mil e uma camadas e... Adivinham? Nada! Ele continuou olhando para o celular. Péinnnn... Próxima estação, Vila Prudente. Levantei e tentei sair junto, mas acho que nem que eu lhe desse um esbarrão de derrubar ele derrubaria os olhos do celular. Tudo bem se ele tivesse olhado pra mim e feito ar de desdém, do tipo "não gostei de você". Mas ele nem me viu, não fez nada, o que é pior. Significa que investi várias estações do meu tempo em um amor platônico. Tempo precioso, tempo líquido. E fui liquidada pela tecnologia, nocauteada! Ainda subi a escada rolante paralela à dele praticando a força da mente: "olha pra mim, lindo!". 
Só para constatar que nisso também sou fraquinha.
 ;)
Esther Alcântara
À VIDA

Tinto
é o cobertor
líquido
sobre o silêncio


Qualquer rubor
não é quimera
coincidência


Só sorte
ou pequena morte
vítrea


Esther Alcantara
O CÃO NOSSO DE CADA DIA

Eu não fui criada com animais em casa, salvo galinhas e pintinhos, que ganhavam nome, como costuma acontecer com gatos e cachorros, e o carinho de todas as crianças da casa e vizinhas - chegávamos a reconhecer a personalidade de cada um deles, a ponto de mais de quarenta anos depois eu ainda me lembrar do Cristinha, que não morreu sem deixar minha mãe traumatizada a ponto de nunca mais matar galinha/frango. Ele era um franguinho grande e valente, e nós já o víamos como um galo ante os outros, daí o nome Cristinha. Minha mãe era acostumada a criar galinhas para comer, e eu e meus irmãos às vezes até ajudávamos a depenar, coisa corriqueira em famílias do interior, que têm o privilégio de um quintal de terra, um galinheiro e muito barulho nos puleiros. Mas o Cristinha - ah, mãe, ele não! Ele era tão especial, que Dona Jurema teve de fechar a porta da cozinha para conseguir matá-lo, já que a criançada toda implorava para que ela o poupasse; mas não adiantou muito, porque nós - criançada bonita - ficamos do outro lado da porta batendo e gritando: não mate o Cristinha, dona Jurema, o Cristinha não! Mas ela foi insensível, num primeiro momento, e teve o resto da vida para se arrepender: o corpo do Cristinha, sem cabeça, ainda deu alguns passos pela cozinha, e Dona Jurema, com a cabeça do frango na mão, viu-se desesperada diante daquela cena esquisita, pensando que era castigo dos céus porque não ouviu as crianças. Foi quando ela prometeu nunca mais matar galinhas e nosso galinheiro foi tomando o rumo do fim. Depois disso, poucas vezes convivi com animais. Um namorado meu tinha um gato, que eu achei no meio da rua, atropelado, e morreu nos meus braços. Eu me lembro que foi muito triste, mas não me lembro de ter passado muito tempo pensando nisso. Ah, mas depois de muitos anos, descobri a alegria e o amor especial dos cachorros! Como eles podem ser tão lindos? Tive o privilégio de ter o Tom em minha vida e aprendi demais nessa convivência, aprendi em especial um tipo de amor muito genuíno e leve. Ele não está mais comigo, por um milhão de motivos reais e realmente relevantes, mas eu não passo um só dia sem pensar nele, e às vezes choro de saudade, mesmo sabendo que ele está muito melhor agora, correndo num quintal com muitos amiguinhos. Mas hoje algo muito forte me fez pensar nele: soube da morte do Pingo, cachorro lindo e querido da minha prima Rosana,que lá no litoral norte da Bahia era um grande companheiro nas caminhadas à praia. Eu me lembro da alegria dele nadando no rio, tão feliz, e penso que esses seres vieram ao mundo para nos ensinar a alegria mais simples de estar no mundo e usufruir da interação com a natureza, com a vida em forma plena. Meu coração está confuso: ao mesmo tempo em que me entristeço porque nunca mais vou ver o Pingo, penso no Tom fora de um apartamento, feliz a correr num quintal, e me sinto egoísta de pensar como seria bom tê-lo aqui no meu apartamento de novo, sentadinho no meu pé ou no meu colo. Pingo era feliz naquela imensidão de liberdade baiana, e Tom ainda tem essa chance de ser mais livre, de ter mais espaço e amigos. Pingo tem a liberdade de um ser que já não precisa de um corpo, que no fundo é só um ponto de dor. Meu Deus, por que ainda somos tão limitados e não conseguimos ser livres como os cães? Quero que meu coração se liberte do apego e da saudade. Precisam ir? Deixo-os andar! É assim que quero ser, embora isso ainda seja um sonho de aprendizado e eu esteja aqui agora, com o coração apertadinho.

Esther Alcântara


NOITÍCIAS POPULARES

O sol já nasceu
mas a noite insiste
tão acordada
que o mundo é breu
e não se vê caminho


De dentro das pessoas
o dia foi abortado
e se prossegue às cegas
a produzir pegadas
de desumanidade


Por favor, alguém aí
pode acender a luz?
Por favor, algum clarão
que faça todo mundo
levantar as pálpebras


Esther Alcântara

(foto: autoria desconhecida/Pinterest)

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NÃO SEGURE A PORTA

Isso evita atrasos
na sua vida
e na vinda
do próximo


Esther Alcântara
A imagem pode conter: texto
O CASO DO POETA

Era como poeta
que entendia
ocasos


Não por acaso
se embriagou
da luz das
palavras
e nelas pôs
pra dormir
a dor


Esther Alcântara

(Imagem: Quint Buchholz)
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DE TANTO INVERNO

Só o frio
abraçava os ossos
e havia cansaço
sim, um peso 
nas pálpebras
envidraçadas
e nus os joelhos
criados-mudos
suportavam a casa


Mas nenhum ruir
de pessoa
nenhum caco
ousava se soltar
só um assovio
roía os trincos
dos porões
até virar grito
na prosa do vento


Esther Alcântara
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RE-CANTO DA CHUVA

Sem fugir
nem fazer de conta
recebi a chuva
antes intempérie
com abraço de shiva
e me fiz ciranda


Cantei 
até encharcar
meu canto agreste
em sonoro afago
sem medo
de me afogar


A fonte renovei
na sede
e o que ontem
alagava sonhos
agora é lago
e dá pé


Esther Alcântara

(Foto: Pinterest - autoria desconhecida)
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SOBRE AMORES E TRANSPOSIÇÕES


Amar alguém, para mim, está totalmente ligado a admirar essa pessoa. Por isso, quando um relacionamento meu se rompe, a dor é ali no momento da ruptura, não algo que se perpetua. Coisa boa que a maturidade faz é ensinar a gente a não arrastar o que é pontual, não amargar tristezas, não regar solidão. Se o outro rompeu e eu o amo ainda, faço o movimento de ler a situação - o outro não é mais aquele que um dia admirei e que me admirou; é um ser com um novo olhar para mim e para o mundo; será que ainda o admiro também, se ele é outro? Será que ainda sou a mesma? Até hoje, nunca a resposta foi positiva depois dessa análise. Sim, posso continuar admirando como ser humano, mas falta a admiração por características básicas para parceria de relacionamento. Então, é hora de reconhecer a ruptura como profunda, de fazer o movimento de transposição. Contemplo a fissura no caminho sem ignorar as pontes possíveis. E a ponte mais significativa está sempre em meus ideais particulares, meus valores, as coisas que significam para mim, minha singularidade... Tudo aquilo que guardo em meu relicário de vida. Solidão? Ah, sinto, sim - mas quando penso na minha mãe e no meu pai, que já se foram. Para essa ruptura não há ponte, para essa solidão não há transposição, pois, por mais estrutura que tenham me dado para viver sozinha, eram meu alicerce de amor, minha única certeza emocional (nada racional, paradoxalmente). Só sinto as pernas bambas de insegurança quando lembro que não tenho mais o abraço deles a minha espera. Para mim, só pai e mãe são intransponíveis. E sou grata a Deus e à vida por ter tido pais sobre quem posso pensar dessa forma. Amanhã é meu aniversário, deve ser por isso que estou assim tão nostálgica quanto a origens e alicerces. Meu pai e minha mãe não só me deram a vida, mas me ensinaram a ser forte e a me amar sempre, a crer que, como filha do Deus de amor, sou digna de todo amor - e de nada que seja menos que isso.



- Esther Alcântara
BOM DE HISTÓRIA

Bom seria
se esse bonde
não fosse estória
sem estrada


Esther Alcântara

Transcendente

TRANSCENDENTE

Era borboleta 
mas colecionava histórias
do tempo do onça


Esther Alcântara

Foto: Maureen Bisilliat
A imagem pode conter: uma ou mais pessoas
UM ABRAÇO!

Aí você pensa que é amor
aquilo que bate
no conteiner do peito
deixa girar bem 
com força centrípeta
e se enrola toda
entre pernas e 
ah...braços!


Até perceber que é hora de
enxaguar soluços
espumantes
centrifugar lágrimas
que ressecam 
gemidos
e abrasar no sol
sua solução


Esther Alcântara
A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas em pé, oceano, céu, crepúsculo, atividades ao ar livre e água

Mo(vi)mento

MO(VI)MENTO

Eu podia estar...
mas o pensamento
muda meu lugar


Esther Alcântara

Capitular

CAPITULAR

Quisera
florescesse
toda quimera
de cor
dos capítulos
essenciais


Não haveria
nudez
indecorosa


Esther Alcântara

(Imagem: arte de PaperDame, Etsy)
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Regresso


REGRESSO

Nas mãos
que trabalham
estremece
a bandeira


Por ordem
mulas estimulam
o progresso
das liteiras


Esther Alcântara
A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e pessoas no palco

Habeas Corpus

HABEAS CORPUS

Quis sair
mas só havia
in-concreto

vias de
abscesso


Acessos de
sexta concepção
por um tris
no cérebro de
segunda


A vida desanda
convulsa
e grita sonâmbula
o direito a seu 
corpus


Esther Alcântara
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GRANIZO

GRANIZO

Lágrimas
se manifestam
por ruas
entumecidas

Derreter
é parte do pacto
por algum
enternecer

Secar
pede mais impacto
por delicado
entalhe

Esther Alcântara

INSÔNIA?

Insônia?

Medo de
fechar os olhos
e ver

Sobrevive-se
no sono do
desver 

Esther Alcântara

(Imagem Insônia, 
de Tiago Lacerda - Elcerdo)


DESVIO - via Bandeira

Eu choro
como quem faz versos
no vão 
entre as palavras
v(il)ãs
decapitadas
de senso e sonho

E sonho
em capítulos soltos
no desvio
das ruas
entre a literatura
e o meio fio
da página

Esther Alcântara